Embora haja muitos sites e blogs de viagens no Brasil, informações claras e úteis sobre a Macedônia são quase inexistentes. E é uma pena, porque além de ser um destino muito seguro, é também super barato viajar por esse país. Este post é sobre a viagem à Macedônia que fiz recentemente com meu esposo, Douglas. Aqui, vocês verão que embora conflitos façam grande parte da história desta região, há riquezas por ali que proporcionam experiências riquíssimas à quem gosta de viajar.
À ouvidos brasileiros, os Bálcãs não soam necessariamente familiar. Em geral, o termo remete à lembranças da Guerra Civil que devastou grande parte da antiga República Socialista Federativa da Iugoslávia no anos 1990. A independência da Macedônia foi alcançada em 1991 e o país foi o único da antiga Iugoslávia que conseguiu fazê-lo sem derramamento de sangue. Isso significa que as cicatrizes da guerra dos anos 1990 não são tão evidentes ali como nos demais países da região. Ainda assim, a Macedônia tem as suas peculiaridades e é um destino super interessante, como vocês verão adiante.
Escópia
Eu e o Douglas decidimos adicionar uma viagem à Macedônia ao nosso itinerário pela Europa Oriental meio que por acidente. Como já estive em outros países dos Bálcãs e tenho paixão pela região, achei que seria boa ideia conhecer também a Macedônia.
Aterrissamos na capital, Escópia, na primeira semana de novembro. Era outono e as temperaturas variavam entre 4 C e 15 C. Ainda assim, o tempo estava bom e, ainda que curtos, tivemos vários dias de sol.
Chegamos em Escópia à meia noite e ainda assim pudemos encontrar no aeroporto uma casa de câmbio e um restaurante abertos. Trocamos um pouco de dinheiro ali, para comprar um lanche para comer quando chegássemos no nosso apartamento. O melhor mesmo é deixar para trocar a maior parte do dinheiro no centro da cidade. Os preços são melhores, a taxa de câmbio é sempre a mesma e não há cobrança de comissão (quando estivemos lá, a conversão era 1 Euro = 61 dinares macedônios). Pegamos um táxi do aeroporto para a nossa hospedagem, pois era o único meio de transporte disponível àquela hora (a corrida de táxi do aeroporto ao centro é tabelada e custa 20 Euros). Apesar de não gostar de chegar em locais desconhecidos à noite, Escópia é bastante segura e tivemos um translado tranquilo.
Nossa hospedagem em Escópia era bem central, então era fácil chegarmos nos principais pontos da cidade. Seguindo pela margem do rio Vardar, que corta a cidade, encontramos o Museu de Arqueologia da Macedonia. O museu é rodeado por um mundo de estátuas que representam os artistas mais conhecidos do país. Na sua frente há duas pontes lindas, também repletas de estátuas. O visual fica ainda mais encantador ao som da música clássica que emana o dia todo das caixas de som espalhadas pela rua. A vontade que dá é sair dançando por entre as estátuas (o que acabei fazendo, por sinal).
Nos encantamos pelo centro novo. Mas ficamos um pouco decepcionados quando soubemos que as estátuas, prédios, praças e monumentos foram parte de um projeto megalomaníaco do governo macedônio que pretendia conceder à capital uma imagem mais “histórica” e reacender o orgulho nacional. Não que o objetivo não tenha sido atingido. Escópia, como se vê atualmente, é realmente linda. Mas projetos como esse, chamado Skopje 2014, são geralmente executados com dinheiro público. E num país com alto nível de desemprego e pobreza, os estimados 650 milhões de Euros gastos com a revitalização da capital certamente poderiam ter melhor uso.
Projetos controversos à parte, voltemos à nossa visita. Continuando pelas margens do rio, se chega na Ponte de Pedra, que une as partes nova e antiga da cidade. A Ponte de Pedra é um dos principais monumentos de Escópia. Diz-se que foi construída no séc. XV, apesar de discordâncias a esse respeito. Embora a construção tenha sofrido várias alterações com o passar dos anos, ela mantém em grande parte sua estrutura original.
À oeste da Ponte de Pedra, se pode ver a Praça Macedônia, onde se encontra a gigantesca estátua de Alexandre o Grande. A estátua foi construída em 2011 como parte do projeto Skopje 2014 para celebrar 20 anos de independência do país (aliás, há uma interessante disputa entre os gregos e os macedônios a respeito do nome “Macedônia” e da origem de Alexandre o Grande). Ao redor da praça, estão hotéis e restaurantes um pouco mais caros.
Seguindo na Rua Macedonia (ou, para quem estiver disposto a testar seus conhecimentos do alfabeto cirílico, ул. Македониjа), se pode chegar à Casa Memorial de Madre Teresa de Calcutá, que nasceu e viveu no país até seus 18 anos de idade. Um pouco mais adiante, na mesma rua, está o Museu da Cidade de Escópia. O museu é uma antiga estação de trem parcialmente destruída pelo terremoto de 1963, que devastou grande parte da cidade.
À leste da Ponte de Pedra, está o antigo Bazar, núcleo comercial da cidade que se suspeita existir desde o séc. XII. No Bazar, se sente mais a “alma” de Escópia. Ali se pode encontrar, evidentemente, além de comércios bons, excelentes restaurantes com preços muito acessíveis. A comida macedônia é muito variada e experimentamos muitos pratos, como Tavče gravče (feijão branco cozido em panela de barro); ćevapi ou kebap (uma espécie de salsicha feita com carne moída); ajvar (pasta condimentada feita com pimentão vermelho); Kashkaval (queijo amarelo de ovelha); Нафора (pão com queijo feta ralado); e o famoso hamburguer sharska (carne “batida” recheada com queijo). Experimentamos também rakija (uma espécie de brandy típico dos Bálcãs), whisky macedônio e Skopsko (Скопско), a cerveja nacional.
Durante nossa estadia em Escópia, fizemos um tour guiado grátis por toda a cidade que durou cerca de 3h30min. Diferentemente da maior parte dos países da Europa, na Macedônia os guias são licensiados pelo governo. Isso significa que eles precisam ter certificação para oferecer tours. Por isso, cada guia oferece seu próprio passeio, ao invés de trabalharem para uma organização maior. Escolhemos fazer um tour com um guia local chamado Miha, um ávido apreciador da história do seu país. Ele nos levou aos principais pontos da cidade e nos contou várias curiosidades, além de expressar críticas sobre o governo. Ouvir dos cidadãos sobre o contexto de seus países é sempre algo que me interessa. Afinal, assim é possível aprender, em primeira mão, sobre a situação real dos lugares que visitamos.
O tour nos levou ao memorial à Madre Teresa de Calcutá; à antiga estação ferroviária; à Praça Macedônia; ao Arco do Triunfo; ao Museu de Arqueologia; à ponte de pedra; às estátuas em homenagem à Olímpia e Filipe II, pais de Alexandre o Grande; ao Antigo Bazar; e à Fortaleza de Escópia (também chamada Fortaleza Kale) construída no séc. VI. Durante o tour, nosso guia também nos levou para experimentar a rakija macedônia num típico restaurante local.
Canyon Matka
Situado na Vila Matka, a cerca de 15km do centro de Escópia, o Canyon Matka é um desfiladeiro que ocupa uma área aproximada de 5000 hectares. É um destino quase que obrigatório para quem decide fazer uma viagem à Macedônia, pois além de muito bonito, é de fácil acesso.
Há pessoas que vão de taxi até o Canyon Matka, mas é muito mais econômico pegar o ônibus n. 60 da estação central de ônibus de Escópia. Uma passagem de ida e volta de ônibus custa apenas 150 dinares macedônios (ou 2,45 Euros). O ônibus é bem velho e sujo, mas a viagem é tranquila e dura 1h. Pegamos o ônibus às 10:30 e chegamos no canyon às 11:30. Descemos na parada final e seguimos caminhando por 10 min. até encontrarmos os barcos que oferecem passeios até uma das cavernas da região. O passeio de barco custa 400 dinares macedônios (ou 6,56 Euros) por pessoa e dura aproximadamente 1h10min (30min. cada trecho e 10 min. na caverna). Apesar de anunciarem que há coletes salva-vidas nos barcos, não vimos nenhum. Mas o trajeto foi tranquilo e a vista é sensacional.
As formações rochosas e a vegetação, combinadas com a cor da água, fizeram com que não parássemos de tirar fotos. Fiquei obcecada por captar um pouco da beleza do Canyon Matka com a minha câmera. A caverna também é muito bonita e dentro dela há um lago cristalino que chega a mais de 200m de profundidade. É possível fazer caminhadas até o topo de algumas das rochas e ir caminhando por um caminho estreito e alto ao longo da margem do rio. Como queríamos apenas fazer o passeio até a caverna, optamos pelo barco. Assim, nosso passeio foi curto e resolvemos pegar o ônibus de volta para Escópia (no mesmo ponto onde o ônibus nos deixou na vinda) às 13:05. Nós optamos por não comer nos restaurantes locais, pois são mais caros e ouvimos dizer que a comida não é tão boa.
Ohrid
Além de Escópia e do Canyon Matka, queríamos muito ter visitado Ohrid, uma cidade no sudoeste da Macedônia que é um dos assentamentos humanos mais antigos de toda a Europa. A cidade, situada às margens do Lago Ohrid, possui o mais antigo monastério eslavo do mundo (St Pantelejmon) e mais de 800 imagens/ícones de estilo bizantino do séc. XI. Dada a sua importância, Ohrid foi declarada patrimônio mundial da humanidade pela Unesco em 1979/1980. Infelizmente, não tivemos tempo de ir até lá (a viagem de Escópia a Ohrid leva aproximadamente 3h de carro). Mas a visita é fortemente recomendada para quem deseja fazer uma viagem à Macedônia.
Está esperando o que?
A Macedônia é um destino ignorado por muitos brasileiros, em parte por falta de conhecimento sobre o país e em parte porque as passagens saindo do Brasil não são das mais baratas. Mas fazer uma viagem à Macedônia é certamente uma ótima escolha para quem gosta de conhecer destinos inusitados. Além de ser um país interessante para se visitar, os preços são muito mais acessíveis do que nos destinos europeus mais comuns. É possível, por exemplo, conseguir hospedagem confortável para duas pessoas por menos de 19 Euros a diária (no nosso caso, optamos por um apartamento privado via Airbnb). Além disso, a alimentação é muito barata. Consegue-se comer bem por 2.50 Euros por pessoa. Fazer compras no supermercado também é super econômico (nós compramos comida para café da manhã e janta para 2 pessoas, por 6 dias, por 17 euros).
Quanto aos voos, há a opção de buscar datas flexíveis, fora da alta temporada, ou de voar para um destino mais comum na Europa Ocidental e dali pegar um voo mais barato para a Macedônia. No nosso caso, pegamos um voo de Barcelona, na Espanha, cujo bilhete sem despacho de bagagens custou apenas 27 Euros (atenção: as companhias aéreas de baixo custo na Europa cobram entre 20 e 40 Euros por bagagem despachada, dependendo do peso).
Espero ter aguçado um pouco o interesse de vocês pela Macedônia. Além de ser um país muito bonito e barato de se visitar, as pessoas são muito atenciosas e prestativas, o que para mim faz toda a diferença.
Caso vocês queiram mais informações sobre o custo total da nossa viagem à Macedônia, se inscrevam no blog! E caso já tenham feito uma viagem à Macedônia ou à outro país dos Bálcãs, comentem abaixo como foi a experiência de vocês!
Até a próxima!
Luiza, adorei as dicas. Pode dar uma ideia de quanto tempo ficar em casa lugar, por favor?? Obrigada!!!
Oi Fernanda! Eu diria que 3 dias em Escópia, incluindo uma ida e volta ao Canyon Matka, e 2 dias para ir e voltar de Ohrid são o suficiente. Talvez até dê pra fazer em menos dias, mas acho que ficaria muito corrido. Abraços!
Vou a Macedônia em maio e começo por Tessalônica ( ainda a Grécia) e vou seguindo. Vou a Ohrid e a Skopje. Valeram a dicas. Estou super curiosa
Que Legal! Um roteiro e tanto. Aproveite e depois conta como foi!
Muito bem escrita sua reportagem Lulu, bem informativa, para pessoas inteligentes. Valeu a dica.bjs
Obrigada! :*
Oi Luiza parabéns pelo blog, as dicas são otimas dado que esse não é um destino mito trivial, estou adorando os posts, espero ver mais conteúdos.
Oi Jefferson! Obrigada! Publicarei posts novos toda semana. Em breve sairá mais coisa nova, então fique de olho. Um abraço!