Houve um período na minha vida em que fiquei repentinamente obcecada com a África. Eu queria ir para lá a todo custo. Mas foi só quando fui morar na Inglaterra pela terceira vez que finalmente tive a oportunidade de colocar meus pés no continente africano. E escolhi o Marrocos para a minha primeira experiência na África.
O Marrocos fica no noroeste da África e é rodeado pelo Oceano Atlântico e pelo mar mediterrâneo. É o ponto da África mais próximo da Europa. De Tânger, cidade situada no Estreito de Gibraltar, se pode chegar à Espanha de balsa em cerca de 40 minutos. Ainda assim, os contrastes entre o país e seu vizinho europeu são gritantes. A começar pela língua: ali, se fala árabe marroquino, berbere e francês. Além disso, a maioria da população é de origem árabe berbere e a religião principal é o islamismo.
O Marrocos é um país que causa reações diferentes em diferentes pessoas. Eu achei o país muito interessante; meu marido, Douglas, nem tanto. Como cometemos muitos erros nessa viagem (por puro despreparo), neste post darei dicas importantes a quem deseja viajar para lá.
Nós escolhemos ir para Fez simplesmente porque a passagem de avião para lá estava mais barata (pagamos 55 libras saindo de Londres). Nossa data de ida também foi flexível: fomos no início de dezembro, uma época excelente com tempo ameno e temperaturas na faixa dos 20 C.
Táxis
Eu já mencionei em outro post que evito chegar à noite em destinos desconhecidos. E o Marrocos é uma das razões. Nós chegamos em Fez por volta das 22h e decidimos pegar um táxi até o nosso hotel. Perguntamos sobre os táxis no balcão de informações e a atendente, sem nos dar atenção, nos mandou para o estacionamento do aeroporto. E aí cometemos nosso primeiro erro e levamos nosso primeiro susto.
Quando nos encaminhamos para o ponto dos táxis no aeroporto, fomos abordados por um taxista que nos ofereceu carona. Ele não falava inglês, então eu perguntei em francês quanto seria mais ou menos a corrida até o nosso endereço. Ele nos cobrou 250 dirham (cerca de R$ 86,00) e já foi pegando as nossas malas e colocando no carro. Nós estávamos cansados e só queríamos chegar logo no hotel, então aceitamos ir com ele. Só depois soubemos que o preço dos táxis é tabelado e que ele nos cobrou quase o dobro do valor fixo (o preço tabelado na época era de 120 a 150 dirham, entre R$ 40 e R$ 50).
No meio do caminho, quando o táxi parou num semáforo, nosso motorista foi abordado por um motoqueiro. O motoqueiro começou a falar algo em árabe e a apontar para nós, que estávamos no banco de trás. O nosso motorista balançou a cabeça negativamente. O motoqueiro persistiu, apontando para nós. Ele parecia tentar convencer o taxista de algo. Nunca saberemos o que se passou, mas acho que vocês entendem o nosso nervosismo com a situação. Sendo do Brasil, estamos sempre alertas. E ter o nosso carro abordado por um motoqueiro no meio da rua, tarde da noite, não é uma situação que transmite tranquilidade.
Mais um informação importante é que no Marrocos existem táxis de longa distância e táxis que só rodam pela cidade. Só os de longa distância podem ir ao aeroporto. Nós não sabíamos disso e no dia de irmos embora pegamos um táxi da cidade de Fez para o aeroporto. O taxista parou no meio do caminho, numa estrada deserta, e saiu do táxi. De novo, momentos de tensão. Ele então pegou uma faixa de pano preta e cobriu o letreiro que mostrava a identificação do táxi.
Seguimos viagem e quando chegamos no aeroporto, fomos abordados por um grupo de 6 ou 7 taxistas furiosos. Douglas e eu já estávamos um pouco fartos, então ignoramos os taxistas e nos apressamos para dentro do aeroporto. Respiramos aliviados de novo. Mas para a nossa surpresa, logo fomos abordados por dois policiais. Os policiais não falavam inglês e exigiram nossos passaportes. Nós não entendíamos nada. Os policiais ficaram com nossos passaportes por um tempo, fazendo anotações sobre nossos dados numa caderneta. Eu já estava a ponto de surtar, até que nos explicaram que não havíamos feito nada de errado. O problema era com o taxista que nos levou até o aeroporto e eles precisavam dos nossos dados para poder abrir um procedimento contra ele. Não preciso dizer que foi super tenso, né?
Evidentemente, nós deveríamos ter pesquisado melhor sobre como ir do aeroporto ao hotel. Devíamos também ter pesquisado sobre golpes de taxistas e sobre a segurança de se locomover à noite no Marrocos. E por sorte nada aconteceu, mas aprendemos muito.
Medina
Quando chegamos no Marrocos, não tínhamos nos dado conta de que carros não podem entrar na medina. Aliás, tamanho foi o nosso despreparo que nem tínhamos nos ligado que as cidades marroquinas tinham medinas.
Bom, já contei da situação do motoqueiro que abordou nosso taxista na noite em que chegamos no Marrocos. Obviamente, ficamos muito felizes quando o motorista recusou a aparente proposta do motoqueiro e seguiu viagem. Contudo, quando chegamos em uma das portas de entrada da medina, o taxista parou o carro e nos mandou descer. Ele falou rápido conosco e chamou um homem que estava reunido com outros homens na entrada da medina. Entendi que ele nos havia dito que não se pode entrar de carro na medina e que teríamos que seguir a pé com o rapaz que ele selecionou. Outro momento de tensão.
A medina de Fez é a maior medina do mundo e foi eleita patrimônio mundial da UNESCO em 1981. Ela possui milhares (m-i-l-h-a-r-e-s) de ruelas, com muros altíssimos que tornam o local um verdadeiro labirinto. À noite, as ruelas são fracamente iluminadas e fica difícil saber para onde se está indo. Por isso vocês podem entender a nossa apreensão. Basicamente entramos num labirinto escuro com um completo estranho. Comecei a arregalar os olhos para o Douglas, querendo dizer: Tae Kwon Do! Lembre-se dos golpes de Tae Kwon-Do!
Por sorte o rapaz foi muito gentil conosco. Nos levou para o nosso hotel e ainda nos deu dicas de passeios e restaurantes. E nós pudemos respirar aliviados. Portanto, se você for ao Marrocos e decidir se hospedar na medina, arranje com alguém do hotel para te buscar no aeroporto.
Viajando pelo país
Além de Fez, conhecemos também Tânger e Chefchaouen. Fomos de Fez para Tânger de trem. Foram cerca de 5h30min de viagem. Nossa ida foi tranquila, embora o trem tenha atrasado bastante por conta das várias paradas ao longo do percurso. A volta, contudo, foi um pouco diferente porque pegamos um trem à noite.
Os assentos dos trens no Marrocos ficam dentro de cabines. Por recomendação de uma amiga, pegamos 1a classe, porque ela disse que era mais “organizado” e as pessoas eram menos barulhentas. O bilhete custava pouco mais que um de 2a classe: 45 dirham (cerca de R$ 15,00) a mais. O trem estava vazio e pudemos escolher uma cabine só para nós. Mas várias vezes no decorrer do trajeto, as luzes se apagavam e o trem ficava todo escuro. Um breu total. Em uma dessas ocasiões, escutamos homens discutindo em uma cabine perto da nossa. Parecia que estavam brigando fervorosamente e que estavam prestes a iniciar vias de fato. Eu fico sempre apreensiva quando vejo ou ouço gente brigando. No escuro, então…eu já estava praticamente em posição fetal no canto da minha cabine, imaginando como pedir misericórdia em árabe.
Ok, estou dramatizando. A discussão logo parou, a luz voltou, e chegamos em Fez sãos e salvos.
Outro trajeto que fizemos foi de Tânger para Chefchaouen. Vocês não sabem, mas a minha cor preferida é azul. Eu fico tão alucinada com coisas azuis que minha família fez uma intervenção no meu guarda-roupas para impedir que eu me tornasse um Smurf.
Tá, mas o que isso tem a ver com esse relato sobre o Marrocos? Bem, Chefchaouen é uma cidade praticamente toda azul! Então por óbvio eu TINHA que visitá-la.
De Tânger é possível chegar até Chefchaouen de ônibus ou táxi. Por sorte, a amiga que estava nos hospedando foi super generosa e nos ofereceu um motorista de sua confiança para nos levar. E devo ressaltar o “por sorte” aqui. Porque no meio do caminho vimos como eram os taxis que vão à Chefchaouen. Em geral, os taxistas que fazem esse trajeto querem ganhar dinheiro. Então eles colocam quantas pessoas eles puderem nos carros. Vimos táxis com seis pessoas, além do motorista. E isso em carros caindo aos pedaços. Não é à toa que muita gente que fez esse trajeto de táxi recomenda que cada pessoa pague por 2 assentos: para evitar que o taxista superlote o carro.
Mas nós fomos privilegiados. Fomos em um carro em ótimas condições e com um motorista só para nós. A viagem foi boa. Mas devo dizer que os hábitos de condução dos motoristas marroquinos não são exatamente o que eu definiria como prudente. Claro que no Brasil há também muitos motoristas irresponsáveis. Mas num país estranho, vivenciar isso é muito mais complicado. E embora a estrada estivesse em boas condições, suspeito que nosso motorista cultivasse o sonho de ser piloto de avião. Ele não corria; voava! E eu passei duas horas grudada em tudo o que eu pudesse segurar no carro. Além disso, fomos parados pela polícia rodoviária 3 ou 4 vezes. Eles abordavam o motorista, falavam qualquer coisa em árabe, pediam documentos, e nos deixavam ir. O motorista olhava para nós, dava sinalzinho de “jóia” e alçava voo de novo…
Restaurantes
Fomos em vários restaurantes durante nossa estadia no Marrocos. O que percebemos é que em geral, existem dois cardápios: um para os locais e outro para os turistas. Cada um com preços distintos (o dos turistas com preços mais altos, claro).
Há uma maneira de simples de escapar disso. Basta escolher restaurantes bem locais, onde os turistas não costumam ir. O problema disso é que o nosso estômago em geral não está preparado para esses restaurantes mais…”raiz”. Nós vimos pães sendo feitos no chão e comida sendo preparada no mesmo prato onde se recebia o dinheiro da conta. Por isso, optamos pelos restaurantes mais turísticos, de duplo-cardápio.
Comércio
Vocês devem saber que os árabes são comerciantes natos, né? Pois então…eu e o Douglas não estávamos preparados para o quão experientes eles são.
Primeiramente, a maioria das lojas nas medinas não coloca preços nos produtos. Isso significa que os vendedores dão preços aleatórios e cabe à você negociar para chegar num valor que você ache justo. A dica da amiga que nos hospedou em Tânger é oferecer a metade do preço indicado e ir negociando a partir daí. Mas negociar, para os árabes é uma arte. Uma arte para qual eu definitivamente não tenho talento.
Outra coisa importante. Em cidades mais turísticas, se você perguntar o preço de algo, mesmo que só por curiosidade, você será convencido a comprar o produto. Os vendedores grudam em você e te vencem pelo cansaço. Há gente que não se importa com isso, mas nós nos sentimos bastante assediados. Houve um ponto em que fomos seguidos pela medina por um rapaz que queria nos obrigar a ir à loja da sua família. Eu tenho certa dificuldade em ignorar pessoas que tentam falar comigo. Então em um momento, começamos a responder apenas em português para nos livrar dos vendedores. Não funcionou. Eles são tão dedicados que conseguem falar tudo que é idioma, inclusive um pouco de português. Então o melhor a fazer é simplesmente ignorar e passar reto.
Caso você queira fazer compras, tenha cuidado com a qualidade dos produtos. Muitas vezes eles falam que é de um material, quando na verdade é de outro. O melhor mesmo é ir em lojas que têm reputação de ser mais confiáveis.
Tours
Eu adoro fazer visitas guiadas em todos os países que visito. Para mim, essa é uma das melhores maneiras de aprender sobre a história, cultura e costumes locais. Mas no Marrocos grande parte do turismo gira em torno do comércio. Por isso, mesmo que você contrate um guia, é possível que o passeio se resuma a visitar lojas que comercializam diferentes produtos típicos.
Não que isso não seja interessante. Nós visitamos uma fábrica de tecidos, um curtume, uma fábrica de objetos de prata, etc. Todos esses produtos são típicos do Marrocos e são muito lindos. Mas o comércio é como que a aorta do mundo árabe. Por isso, mesmo numa visita guiada com um guia local, você terá que ter muita força de vontade para escapar da insistência dos vendedores. Por sorte, fizemos o tour com um grupo de alemães. E como eles acham que todo Europeu tem dinheiro, os vendedores colaram nos alemães e nos deixaram de lado. Por isso, se puderem, façam visitas em grupo.
Costumes locais
No Marrocos há mesquitas espalhadas por todas as cidades e dos alto-falantes do minarete (torre das mesquitas) se pode ouvir o adhan (chamado à oração) várias vezes ao dia.
O Marrocos é também um país onde os homens dominam os espaços públicos. Nas ruas, se vê sempre muito mais homens do que mulheres. E embora há mulheres que não usem o véu, a maioria delas se veste de forma mais conservadora.
Por respeito à cultura local e também para evitar situações desconfortáveis para mim, eu evitei usar roupas curtas ou coladas durante minha estadia no país. Eu falo mais sobre esse assunto em outro post, mas isso é uma escolha que eu costumo fazer quando viajo.
Acredite, o Marrocos é um ótimo destino
Talvez você esteja pensando: com tudo isso, não seria melhor evitar o Marrocos? A resposta é: não!
Deixemos uma coisa clara: o objetivo deste post foi dar dicas do que não fazer numa viagem ao Marrocos. Conheço muitas pessoas que não tiveram problema algum ao visitar país. Nós passamos alguns sufocos porque cometemos erros. E aprendemos com eles.
O Marrocos é um destino exótico. É repleto de história e sua cultura é super diferente da nossa. Por isso, viajar para lá é uma experiência cultural riquíssima. Além disso, o Marrocos é um dos destinos mais seguros da África. Então se você usar as dicas deste post à seu favor, provavelmente terá uma viagem tranquila e inesquecível!
Achei ótimas suas dicas sobre Marrocos… aconteceram coisas bem semelhantes na Turquia. Principalmente no grande Bazar.se perguntar o preço..
Ferrou. Eles ficam colados em vc a feira inteira.
Obrigada, Alice! Bom saber isso sobre a Turquia. Ainda não conheço, mas quando eu for ficarei atenta. Abraços!