Quando decidi fazer minha primeira viagem sozinha, eu estava bastante apreensiva. Eu não conhecia ninguém com experiência em viajar sozinha e não sabia o que esperar. Por isso decidi fazer um post para compartilhar as minhas experiências e dar algumas dicas importantes para ajudar outras mulheres que querem viajar sozinhas.
Minha primeira vez viajando sozinha
A primeira viagem sozinha que eu fiz foi em 2007, para a Argentina. Até então eu jamais tinha considerado viajar sozinha. Eu tinha medo. Não conhecia mulheres que viajam sozinhas e não sabia se era seguro.
Eu nunca tinha ido à Argentina e muitas pessoas tinham me falado que o nível de segurança no país era tão baixo quanto no Brasil. As pessoas me falaram também que os argentinos eram hostis aos brasileiros. Obviamente, essas informações me fizeram hesitar. Falei com vários amigos e parentes para ver se conseguia companhia para a viagem. Mas embora todos expressassem interesse, as pessoas ou não tinham dinheiro, ou não tinham tempo para ir comigo. E eu sentia que precisava sair da minha cidade e respirar novos ares.
Decidi que eu não ia deixar que as condições dos outros determinasse o que eu iria fazer. Afinal, por mais clichê que pareça, eu acredito que se você realmente quer algo, é você quem tem que ir atrás do que deseja.
Assim, comprei a passagem e reservei minha hospedagem. Até então, eu nunca tinha ficado em um hostel. Para mim, albergues eram como pensões de beira de estrada tomadas por andarilhos. Fiz várias pesquisas e conversei com frequentadores assíduos de albergues que já tinham viajado para a Argentina. Resolvi que se meu objetivo era ter uma experiência nova e conhecer pessoas, ficar em um hostel seria o ideal.
Fiz também muitas pesquisas sobre o que fazer Buenos Aires. Busquei tudo o que pude sobre pontos turísticos, atividades interessantes, curiosidades locais e também informações importantes sobre segurança. Buenos Aires é uma cidade plana e vários de seus bairros possuem uma infinidade de lugares interessantes para se visitar. Assim, munida das informações que adquiri, fiz um plano de viagem bem detalhado. Para cada dia, determinei os bairros e lugares que iria visitar e as atividades que iria fazer.
Fiz isso primeiro porque era a minha primeira viagem sozinha ao exterior e eu queria me organizar. Fiz, também, para que a minha família soubesse exatamente onde eu planejava estar em cada dia, para tranquilizar tanto a eles, quanto a mim com relação à minha segurança. Hoje em dia, não faço mais esse planejamento tão detalhado porque consome um tempo absurdo. Além disso, tenho muito mais experiência com viagens e consigo me programar de forma mais dinâmica (embora haja exceções).
Cheguei em Buenos Aires num domingo à tarde. Chegar em um país estranho, completamente sozinha, num domingo, não é a melhor a ideia. Nos domingos grande parte do comércio está fechado (em países de maioria cristã, ao menos) e há pouco movimento nas ruas. Por isso, as opções de atividades são mais limitadas. Além disso, chegar num lugar onde não conheço ninguém num dia pacato me causa uma sensação de solidão.
Foi justamente isso que senti quando cheguei no meu hostel. Fechei a porta do meu quarto, joguei minha mala no chão e me perguntei: “que diabos vim fazer aqui?” Tentei me recompor e me convencer de que a experiência de viajar sozinha seria boa para mim. Logo saí para explorar a cidade.
Já no dia seguinte a sensação inicial de arrependimento se transformou por completo. Eu me sentia livre, feliz, realizada. Como se tivesse descoberto uma nova parte de mim: a parte que não precisa de ninguém para fazer o que quer. Se você já sentiu isso, sabe que essa é uma sensação muito boa porque reflete um processo de conscientização do poder que temos dentro de nós. E essa conscientização me marcou profundamente.
Para minha surpresa, fui incrivelmente bem tratada em Buenos Aires. Mais do que qualquer outro lugar onde eu já tivesse ido. Para mim, foi uma experiência muito positiva. Tanto que voltei 6 meses depois, com a minha irmã. E de novo 5 anos depois, sozinha novamente (dessa vez para Mendoza).
Buscando informações
Minha primeira experiência foi tão boa que decidi viajar sozinha várias outras vezes: Estônia, Inglaterra, Letônia, para citar alguns. Em todos esses países, tive experiências maravilhosas. Mas é importante dizer que eu sempre tomei precauções para me manter segura.
Sendo mulher e sendo do Brasil, sinto que tomar precauções é quase como um hábito inerente à minha pessoa. Eu fui criada para estar sempre alerta e para sempre ter cuidado. E nunca tinha me dado conta disso até conversar com mulheres de países onde a falta de segurança não é um problema tão palpável.
Além de tomar certas precauções, também sempre escolhi meus destinos com cuidado. E costumo pesquisar bastante a respeito antes de bater o martelo quanto à viajar sozinha. A internet é obviamente uma ferramenta super útil para quem quer fazer uma viagem sozinha porque é fácil conseguir informações sobre lugares diferentes. Por exemplo, estes artigos do Estadão e da BBC Brasil possuem informações úteis e dicas interessantes para quem planeja viajar sozinha.
Mas mais do que buscar informações genéricas sobre os lugares, é fundamental entender a cultura e as regras locais para evitar maus entendidos e situações difíceis. É importante, também, saber quais regiões são seguras e quais não são recomendáveis; se há algum contexto de instabilidade política e social no país/cidade; se as estradas estão em boas condições e os meios de transporte são seguros; e se a sociedade local segue convenções sociais rígidas ou hostis às mulheres ou à minorias.
Por exemplo, eu e meu marido estávamos planejando uma viagem à Ucrânia. E embora fôssemos fazer essa viagem juntos, eu sei que o país está em conflito com a Rússia e que algumas regiões poderiam ser críticas. Para me certificar que ir para lá seria seguro, entrei em contato com a Embaixada do Brasil em Kiev. Recebi informações super importantes, que eu não havia encontrado nas minhas buscas online. E com isso, conseguimos planejar a viagem com mais cuidado para evitar situações problemáticas.
Algumas precauções úteis para quem quer viajar sozinha
Além de buscar informações, eu sempre adoto algumas precauções básicas, como evitar chegar no meu destino tarde da noite; evitar andar sozinha à noite; sempre andar com documento pessoal; ter o endereço da minha hospedagem em mãos; andar com mapas e direções; não andar com nada de valor (exceto celular e aquelas carteiras internas com um pouco de dinheiro e meu passaporte); não aceitar comida ou bebida de estranhos; e jamais tirar o olho da minha bagagem durante meus deslocamentos de um lugar ao outro.
Outras medidas que acho válidas são ter em mãos as informações de contato da embaixada ou consulado do Brasil no país de destino; sempre que possível, alugar quartos privados ou ao menos quartos exclusivos para mulheres em albergues; sempre ler sobre reviews de hospedagens, passeios e atividades; e, infelizmente, também me vestir de forma um pouco mais conservadora.
Eu sei que cada pessoa tem o direito e a liberdade de se vestir da maneira como quiser. E quero deixar muito claro aqui que qualquer ato que viole a segurança, bem-estar e integridade física, emocional e psicológica de qualquer pessoa, é culpa do autor do ato e não da vítima. É meu desejo viver em uma sociedade em que as pessoas entendam e respeitem isso. Em que homens e mulheres possam fazer o que quiserem em liberdade, sem temer por sua segurança ou seu bem estar. Mas infelizmente, até que cheguemos nesse nível de evolução humana, o fato é que em muitos países (no Brasil, inclusive), a sociedade ainda é em grande parte machista. E quando eu estou sozinha em um local novo onde não conheço ninguém, eu escolho tomar tomas as medidas que eu julgo necessárias para ter uma viagem tranquila.
Esclarecendo…
Quero ressaltar aqui dois verbos importantes: escolher e julgar. Escolher implica ter a liberdade de tomar uma decisão dentre um leque de opções. Ou seja, quem escolhe sou eu e ninguém pode impor qualquer decisão à mim porque sou livre. E eu escolho algo porque eu julgo que essa opção seja melhor para mim. Julgar é algo subjetivo. Também implica liberdade de pensar, analisar uma situação e firmar meu próprio posicionamento sobre ela. Portanto, assim como eu escolho agir de determinada forma, outras mulheres podem escolher agir de forma distinta. E não há problema nenhum com isso. Elas podem e devem agir da maneira como julgam ser melhor para elas. Ninguém deve puni-las por isso.
Então dá para viajar sozinha?
Sim, claro! Viajar sozinha tem muitas vantagens e pode ser uma experiência maravilhosa. Basta escolher os destinos com prudência, buscar informações e tomar as devidas precauções.
E você, já viajou sozinha/o? Deixe um comentário com suas experiências e dicas para uma viagem tranquila!
Olá! Estou a ponderar viajar sozinha em Novembro! O roteiro pensado seria Viena, Bratislava, Sófia e Bucareste! Não sei se será seguro… O que me aconselha??
Oi Ana,
que legal que está planejando viajar sozinha. Os destinos que você mencionou me parecem tranquilos para uma mulher viajando sozinha, especialmente Viena e Bratislava. Quanto à Sofia e Bucareste, não tivemos problemas lá, mas eu tomaria um cuidado extra. Busque acomodações bem recomendadas e bem localizadas, evite andar sozinha à noite, planeje suas saídas para garantir que você passará por áreas mais movimentadas (e não por ruas ou bairros mais isolados) e cuide de seus pertences. Acho que com esses cuidados – que na verdade devemos tomar em qualquer cidade – você terá uma boa experiência viajando sozinha. Boa viagem!
Adorei o post! Muito obrigada por compartilhar suas experiências!
Fico feliz que tenha gostado! Um grande abraço!