Manaus, capital do Estado do Amazonas, é uma enorme cidade no coração da maior floresta tropical do mundo. Com mais de 2 milhões de habitantes, a cidade é um rico centro turístico que oferece grande variedade de experiências gastronômicas, culturais, urbanas e ecológicas. No post de hoje, vamos falar sobre o turismo de natureza e contar como foi nossa experiência em um hotel de selva da Amazônia: o Amazon Ecopark Jungle Lodge.*
Turismo de Natureza em Manaus
Por sua localização, Manaus oferece um amplo leque de opções para quem deseja fazer turismo de natureza. Segundo o Ministério do Turismo, o turismo de natureza é a segunda maior motivação das viagens de estrangeiros que vêm ao Brasil a passeio. Em 2017, 16,3% do total de 6,6 milhões de visitantes vieram ao Brasil em busca de maior contato com suas riquezas naturais.
Além de ser um baita atrativo para quem vem de fora, o turismo de natureza promove o desenvolvimento local. Isso, porque esse tipo de turismo proporciona investimentos na economia e no comércio locais. O turismo de natureza também incentiva práticas sustentáveis ao meio ambiente e conscientiza os viajantes sobre a importância da preservação ambiental.
Essa conscientização sobre a importância do meio ambiente é fundamental para que valorizemos a riqueza que temos. Afinal, é mais fácil cuidarmos daquilo que conhecemos. Por isso, esperamos motivá-lo a vivenciar o turismo de natureza na maior e mais exuberante floresta tropical do mundo: a Amazônia.
Hoteis de selva
Hoteis de selva, também chamados de lodges (em inglês), são alojamentos típicos de áreas selvagens que proporcionam aos hóspedes uma estadia integrada à natureza. O objetivo desse tipo de hospedagem é justamente aproximar as pessoas da natureza, respeitando os limites do meio ambiente e possibilitando experiências únicas aos hóspedes. Em um hotel de selva, você se sente acolhido pela magnitude da natureza e aprende a se relacionar com ela de uma forma diferente.
Com o aumento da consciência ambiental global, os hoteis de selva cresceram em popularidade. E a exuberante floresta amazônica é um dos mais visados destinos por quem deseja ter uma experiência integrada ao meio ambiente.
Amazon Ecopark Jungle Lodge
Histórico
O Amazon Ecopark Jungle Lodge é uma joia de aproximadamente 3 Km2 no coração da Amazônia. Fundado em 1991, o hotel surgiu inicialmente como um complexo turístico, científico e educacional destinado para os turistas que iam até Manaus e queriam vivenciar a magnitude da floresta sem perder tempo com deslocamentos. Situado nas margens do rio Tarumã – um afluente do Rio Negro – o hotel fica a cerca de 45min do centro de Manaus, sendo portanto um dos mais facilmente acessíveis pela proximidade à capital amazonense.
A primeira construção do complexo foi o restaurante, um amplo espaço decorado com motivos indígenas, onde ainda hoje são servidos verdadeiros banquetes. Além da selva em si, nos arredores da propriedade os turistas tinham acesso a um centro de reabilitação de primatas resgatados de cativeiro ou do comércio ilegal. Esse centro permanece em pleno funcionamento e ainda pode ser visitado pelos hóspedes do hotel.
Estrutura
Os atrativos do Amazon Ecopark acabaram por gerar uma demanda por um local onde os visitantes pudessem pernoitar. Foi então que, a partir de 1995, o complexo passou a funcionar também como hotel. A estrutura do hotel é bastante ampla, com 70 apartamentos divididos entre 22 bangalôs por entre a vegetação nativa. As habitações são confortáveis e contam com ar condicionado, frigobar e banheiro privativo com chuveiro elétrico.
O hotel também possui uma confortável recepção, onde há mesa de sinuca, xadrez, duas televisões, um bar e uma loja de souvenir. Como o hotel fica na beira do rio, seus hóspedes podem desfrutar de uma bela praia privativa. Outro grande atrativo são as piscinas naturais com pequenas cascatas, rodeadas pela vegetação nativa. Na propriedade há, ainda, um amplo salão para eventos e uma aconchegante área para leitura.
Equipe
Além da estrutura, o hotel conta com uma completa equipe de apoio, entre motoristas, pilotos de barco, guias turísticos, garçons, pessoal de limpeza e recepcionistas. São dezenas de pessoas, a maioria das quais originária da região, que trabalham incessantemente para fazer com que os hóspedes se sintam bem recebidos.
Pacotes
Por se tratar de um hotel de selva, o Amazon Ecopark Jungle Lodge não trabalha apenas com diárias, mas com pacotes completos. Nos pacotes, estão inclusos a pernoite, o traslado desde Manaus (carro e barco), uma pensão completa (café da manhã, almoço e jantar, mas sem bebida inclusa), e 5 passeios ecológicos, guiados por profissionais bilíngues. Os preços por dia começam na faixa de R$ 1500,00 por pessoa.
Nossa experiência
1o Dia
Eu e o Douglas chegamos no Amazon Ecopark Jungle Lodge no final da tarde de uma sexta-feira. Um dos motoristas do hotel nos buscou no nosso apartamento e nos levou até a marina Tauá. De lá, partimos de lancha rápida para o hotel, um trajeto que durou cerca de 15 minutos. Ao chegar, nos deparamos com a bela praia privativa em frente ao hotel e seguimos caminho até a recepção. Ali, fomos muito bem recebidos pelos funcionários de plantão, que nos ofereceram como cortesia uma bebida de cupuaçu (fruta típica da região) com xarope de guaraná. Fomos, então, direcionados para o nosso bangalô, inserido no meio da vegetação nativa.
Relaxamos um pouco no quarto, buscando nos acostumar com a tranquilidade da natureza, entrecortada pelo barulho dos animais. Os quartos do hotel não possuem televisão, telefone, wifi ou sinal de celular. Sendo pessoas totalmente urbanas e constantemente conectadas, confesso que sentimos um pouco de estranheza com o isolamento digital que o hotel nos impõe. Nos sentimos um pouco deslocados nesse contexto, mas interpretamos isso como uma oportunidade para nos conectarmos não só com a natureza, mas um com o outro. E após pouco tempo, já estávamos acostumados com a quietude que nos cercava.
No início da noite, seguimos para o restaurante. O fato de o hotel oferecer pacotes que incluem pernoite, refeições e passeios é importante, pois como o local é isolado não haveria onde comer. E o restaurante foi a nossa primeira surpresa positiva no Amazon Ecopark. A comida é variada, saborosa e farta (mesmo para mim, que sou vegetariana). É importante destacar, contudo, que os horários das refeições lá são mais curtos que os de um hotel comum. No Amazon Ecopark, o café da manhã é servido das 7h30min às 9h, o almoço das 12h30min às 14h e o jantar das 19h30min às 21h. Portanto, preste atenção no relógio para não perder as deliciosas refeições que o restaurante oferece!
Após o jantar, fomos para a recepção verificar a programação dos passeios (e, confesso, usar um pouco da internet!). A equipe do hotel preparou tudo de acordo com o período da nossa estadia, garantindo que tivéssemos uma programação completa, mas sem ser cansativa demais. Ficamos um pouco por ali e seguimos depois para o nosso bangalô. Não sei vocês, mas sempre que nós estamos em contato com a natureza, nos sentimos tão relaxados que acabamos dormindo mais do que o normal. Por isso (e também para garantir que acordássemos em tempo para o café da manhã), fomos dormir por volta das 22h.
Nosso quarto era bastante aconchegante, com uma cama grande e confortável. Senti apenas falta de mais lugares para pendurarmos nossas coisas, apesar de que o armário aberto tinha cabides. Além disso, os bangalôs não têm muito isolamento acústico. Não vejo isso como um problema quando se está na natureza, já que ouvir o barulho da mata ajuda a relaxar. Mas tenho o sono super leve e por isso em uma ocasião acordei com o barulho de pessoas perto do nosso quarto (provavelmente hóspedes que estavam no bangalô ao lado). E na nossa segunda noite acordamos meio assustados com algum animal arranhando o forro do armário. Experiências de se estar na floresta!
2o Dia
Acordamos cedo no sábado e fomos tomar nosso café da manhã reforçado. Com opções de frutas, cereais, pães, bolos, iogurte, omelete, tapioca e sucos, o café da manhã foi uma alegria! E a alegria virou puro êxtase ao sermos subitamente contemplados com uma maravilhosa arara vermelha que voou restaurante adentro em busca de um lanchinho. Descobrimos, depois, que se tratava do Lauro, o mascote do hotel que costuma visitar o restaurante em busca de pão de queijo (apesar das proibições de seus médicos). Encontramos o Lauro várias outras vezes ao longo da nossa estadia e devo dizer que me apaixonei por ele!
Além do Lauro, toda a equipe do hotel se mostrou sempre muito solícita e simpática, o que tornou nossa estadia ainda mais agradável. Terminando o café da manhã, o Douglas seguiu para o primeiro passeio: uma caminhada pela selva. Com um grupo de cerca de 10 pessoas liderado pelo guia Matheus, o Douglas aprendeu uma série de coisas sobre a floresta, como dicas de sobrevivência e segurança, tradições indígenas e características da fauna e flora nativas. A caminhada durou cerca de 1h30min e foi um trajeto relativamente fácil de percorrer, exceto pelo calor úmido que impera em uma floresta tropical.
Após a caminhada, seguimos para a Floresta dos Macacos, onde primatas resgatados do tráfico ilegal ou de cativeiros são reabilitados. Para chegar até lá, são menos de 10 min. de barco. E tão logo desembarcamos, demos de cara com uma faceira uacari (macaca-inglesa), fazendo peripécias. Os guias nos explicaram sobre a origem desses macacos e como eles foram resgatados, além de falarem sobre o trabalho que a Fundação Floresta Viva faz para reabilitá-los. O objetivo da Fundação é quebrar o contato entre os animais e os humanos, para que eles possam ser reintegrados à natureza. Mais de 600 macacos, de 6 tipos diferentes, já foram reabilitados pela Fundação.
A visita à floresta dos macacos acontece apenas duas vezes por dia, nos horários em que eles são alimentados. As visitas acontecem nessas horas para que os turistas possam, de fato, ver os animais. Em virtude disso, os grupos acabam se acumulando no passeio. Por isso, em alguns momentos, nos pareceu um pouco cheio de gente demais. Mas foi um passeio interessante e foi legal ver o comprometimento da equipe do hotel com a proteção dos animais.
Após a visita à Floresta dos Macacos, voltamos para o hotel e resolvemos experimentar suas piscinas naturais.O lugar é como um paraíso no meio da floresta! A alta acidez da água do Rio Negro, somada à milhares de folhas que caem das árvores todos os dias, fazem com que a água que brota do solo adquira uma coloração rubi. Era como se estivéssemos nos banhando em uma piscina de chá mate bem gelado!
Ficamos ali, nas piscinas de chá de floresta, por cerca de 1h. As cascatas que ligam uma piscina a outra servem também de massageador. Foi como se nos encontrássemos em um spa natural onde relaxar era nossa única opção. Relaxados e famintos, fomos almoçar. E enquanto comíamos, fomos brindados com uma verdadeira chuva tropical, refrescante, forte e imponente. Aproveitamos para descansar um pouco até o próximo passeio. Afinal, tem algo melhor do que tirar um cochilo em uma tarde chuvosa?
No meio da tarde, seguimos de barco com a guia Edi até a Casa do Caboclo para conhecer algumas das tradições dos ribeirinhos. Caboclo é o termo usado para se referir à mistura entre portugueses e índios, que hoje compõem boa parte da população amazônica. No local, fomos recepcionados pelos simpáticos Renê e Sr. Tomé. Eles nos explicaram sobre a produção da farinha de mandioca e da vulcanização do látex da borracha. Foi uma boa conversa, regada a castanhas, cafezinho e risadas.
Em seguida, fomos para a pesca de piranhas. Sendo amante e admiradora dos animais, não gosto de pescar. Mas acompanhei o grupo no passeio, secretamente torcendo para que ninguém fisgasse um peixinho. Ficamos ali por alguns minutos e embora nenhuma piranha tenha aparecido, recebemos a visita do Iuri, um simpático jacaré que habita o local.
Satisfeitos pela visita que recebemos do Iuri, retornamos para o hotel. Foi quando, no meio do percurso, fomos contemplados por um grupo de botos saltitando ao nosso redor. O êxtase foi geral! A nossa sensação era que a Amazônia estava se mostrando para nós, com toda a sua beleza e generosidade.
Chegando no hotel, tomamos um refresco no bar e ficamos relaxando até o próximo passeio. Por volta das 18:45, seguimos novamente de barco para fazer a focagem de jacarés. Ali, aprendemos que a Amazônia se torna ainda mais viva à noite e pudemos sentir a floresta pulsante ao nosso redor.
O tour é feito totalmente no escuro, exceto por um feixe de luz que o guia emana para tentar identificar os jacarés nas redondezas. Ao ver a luz, o jacaré fica paralisado e seus olhos brilham como pequenos pontos de luz vermelha. Até aí, nada demais para mim, pois eu já havia feito focagem de jacarés no Pantanal Matogrossense. A surpresa veio quando o guia, ao identificar um jacaré, se atirou no rio para pegá-lo com suas próprias mãos! Por sorte, era um jacaré bebê, consideravelmente manso, que foi logo devolvido à água. O guia nos explicou sobre a espécie, seus hábitos e suas características. Observamos tudo perplexos pela coragem (ou insanidade?) dele. E ao questioná-lo sobre a prática de pegar jacarés com as próprias mãos, ele nos disse que esse era “o esporte radical” dele. Ele nos confessou, contudo, que às vezes “surpresas” acontecem.
Após o passeio, voltamos para o hotel e fomos jantar. Era aniversário do Douglas e a equipe do restaurante gentilmente preparou um bolo de aniversário para ele. Foi o encerramento perfeito de um dia maravilhoso.
3o Dia
No dia seguinte, acordamos cedo para aproveitar o café manhã e em seguida fomos para o famoso passeio do encontro das águas. Partimos em uma lancha rápida, com um grupo de 8 pessoas (contando conosco) liderado pela guia Edi. Seguimos pelo Rio Negro, fazendo uma rápida parada no porto de Manaus onde vimos a altura que o rio alcançou nos anos anteriores.
Depois, fomos até o ponto onde os rios Negro e Solimões se encontram e se transformam no Rio Amazonas. Ali, é possível ver o contraste de cor e temperatura das águas, que seguem lado a lado por 12km até se misturarem. Aprendemos que o Rio Negro é da era glacial e por ser mais antigo, não tem tantos sedimentos. Sua cor negra é porque a floresta, nas margens, fica parcialmente submersa na época de chuva. Além disso, ouro e ferro também compõem o rio. Por ser mais ácido, o Rio Negro tem menos biodiversidade do que o Solimões. Por consequência, tem também menos insetos. A amplidão do Rio Negro é notória: ele possui trechos com 95m de profundidade e 22 km de largura.
Após testemunharmos o encontro das águas, fomos para um flutuante, típico restaurante do Amazonas que fica no rio. Comemos um buffet delicioso, com uma grande variedade de pratos. Terminando o almoço, demos uma esticada sobre as passarelas que ficam aos fundos do flutuante, onde podemos ver as Vitórias Régias, ou Vitórias do Brasil.
Retornamos para o hotel por um caminho diferente, passando por dentro da mata alagada pelo Rio Solimões. Passamos vagarosamente por entre os canais que entrecortam a floresta exuberantemente verde. E ficamos encantados com a beleza do lugar: parecia uma pintura! Encerramos o passeio e chegamos no hotel por volta das 15h30min. Organizamos nossas coisas e nos despedimos do lodge e da maravilhosa equipe que nos recebeu.
E então, pronto para vivenciar a Amazônia?
Ao decidirmos ter uma experiência em um hotel de selva, não sabíamos o que esperar. Mas desde o princípio era claro que um hotel de selva não seria como um hotel normal. Em um hotel de selva, você é um hóspede da natureza e precisa se portar como tal: com humildade e respeito.
Após nossa estadia no Amazon Ecopark Jungle Lodge, nosso sentimento preponderante era de gratidão. Gratidão pelo privilégio de vivenciarmos a Amazônia; por aumentarmos nossa consciência ambiental; por sermos tão bem atendidos; e por nos desconectarmos do mundo, para nos reconectarmos um com o outro.
Esperamos que você também tenha a oportunidade de experimentar, em primeira mão, as maravilhas da Amazônia! E se você achou o Amazon Ecopark interessante, que tal dar uma esticadinha até lá? Faça aqui a sua reserva.
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* Esse post foi fruto de uma press trip, feita em parceria com o Amazon Ecopark Jungle Lodge. Todas as experiências aqui relatadas refletem nossa opinião honesta sobre o que vimos e vivenciamos durante nossa estadia no hotel.
Sensacional esse post!!! Muito bem explicado, parecia que eu estava lendo um livro!!! E, claro, um livro muito bom!!! Adorei!!! Parabéns!!! E também pela versão nova do blog!!! Esse blog é tão bom, que certamente vai gerar um ótimo livro de narrativas de viagens, além de todas as dicas incríveis!!!
Obrigada! São esses feedbacks que nos motivam a continuar nos dedicando ao blog! Beijão!
Emocionante essa narrativa sobre esse abençoado contato ! Parabéns !
Obrigada! :*
Parabéns, Lu ! Excelente narrativa ! Me senti na Amazônia.
Obrigada! Lembrei do teu lodge no Pantanal!