Terra do Drácula e dos ursos-pardos, a Romênia é um país surpreendente que ainda está fora do radar de muitos turistas brasileiros. Por isso, escrevi este post para que você saiba mais sobre esse país tão bonito e se inspire a incluí-lo na sua próxima viagem.
1) Strigoi
Os strigoi são seres lendários da Romênia comumente associados aos vampiros ou mortos-vivos. Segundo a lenda, eles ressurgem dos mortos e possuem atributos mágicos, como a habilidade de auto-cura, imortalidade, visão noturna, força sobrenatural e tolerância à dor. Apesar da lenda dos strigoi ser antiga, ainda hoje há pessoas na Romênia que acreditam nesses seres, sobretudo no meio rural.
Um exemplo claro de que a crença dos strigoi permanece viva aconteceu na vila Marotinu de Sus, no sudoeste da Romênia. Em dezembro de 2003, um homem de 76 anos chamado Petre Toma faleceu. Até aí nada de mais. Ocorre que logo após o falecimento de Toma, uma de suas sobrinhas adoeceu e afirmou que seu tio a estava visitando à noite e se alimentando de seu coração. A partir daí não restava dúvida de que Toma havia se transformado em um strigoi.
Um grupo de seis homens, liderados pelo irmão de Toma, decidiu tomar medidas para derrotar o ser sobrenatural. Eles foram até a cova checar o defunto e constataram que havia realmente indícios de que ele havia se transformado em strigoi. À meia noite do dia seguinte, os homens abriram o peito do defunto com uma forquilha e retiraram seu coração. O coração foi então levado para a vila e…….grelhado. As cinzas do coração tostado foram então diluídas em água e tomadas pela sobrinha doente de Toma. Conta-se que horas depois, a tal sobrinha supostamente se curou da sua enfermidade.
O caso não é isolado na Romênia, mas recebeu muita atenção da mídia internacional devido às negociações da Romênia na época para aderir à União Europeia. E apesar da prática estar banida pelo governo, ainda hoje há muitas pessoas que acreditam que os mortos podem se tornar strigoi e que é necessário combatê-los.
2) Vlad Dracula
Vlad Țepeș, também conhecido como Vlad III Drăculea ou Vlad o Empalador foi o segundo filho do nobre Vlad II Dracul. O apelido “Dracula” significa, em romeno, filho de Dracul. Dracul, por sua vez, é derivado do latim “draco” (dragão) e indicava a Ordem da qual o pai de Vlad III pertencia. A ordem havia sido criada pelo Emperador Romano Sigismund para a defesa da Europa cristã contra o Império Otomano. Mas dracul, em romeno, também significa “diabo” e, por consequência, drácula é também traduzido como “o filho do diabo”.
Vlad III nasceu em 1431 na região da Transilvânia, Romênia. Em 1436 se mudou para a região de Wallachia, onde seu pai assumiu o principado. Em 1442, foi enviado com seu irmão mais novo à corte do Sultão otomano Murad II como garantia de que seu pai obedeceria as políticas otomanas. Ali, Vlad III aprendeu a língua, os costumes e as técnicas de guerra dos turcos.
Em 1448, Vlad soube do assassinato de seu pai e irmão mais velho pelos nobres da Wallachia (chamados de boyars). Decidiu então retornar à região para recuperar o posto de seu pai. Seus inimigos incluíam os boyars e também os otomanos e os húngaros.
Ao assumir o principado, Vlad decidiu libertar a Wallachia do domínio otomano. Tendo um exército muito menor que o do Sultão, passou a cometer atrocidades para mostrar aos seus inimigos o destino daqueles que ousassem se opor à ele. Seu método preferido para derrotar seus opositores era empalá-los em estacas, espalhando suas vítimas por todo o território. Sua crueldade resultou em extensos campos de empalados que cobriam kilômetros de distância. Mas graças à isso, Vlad III conseguiu expulsar os otomanos da Wallachia. Contudo, pouco tempo depois foi capturado por Matthias I, da Hungria, e preso. Conta-se que ele retomou sua posição de governante em 1476, mas que morreu em batalha nesse mesmo ano.
Acredita-se que Bram Stoker, autor do livro Drácula, usou a figura de Vlad III para inspirar seu personagem principal. Mas mesmo sendo uma figura notadamente cruel, o povo romeno vê Vlad III como um herói nacional. Em parte porque ele foi capaz de libertar a Romênia dos otomanos, ainda que brevemente. Mas principalmente porque ele era cruel com todos seus inimigos, fossem eles pobres, nobres, nacionais ou estrangeiros. À ele, portanto, é associado um certo senso de……justiça.
3) O alemão que foi convidado a virar rei na Romênia
Você já percebeu que a Romênia, assim como todos os países da região, sofreu muito com ocupações, né? Pois então, após muito lutar por sua independência, a Romênia acabou sendo novamente ocupada pelos otomanos na metade do séc. XV. E foi só em 1821 que uma nova tentativa separatista voltou a ocorrer na Wallachia.
Contudo, o levante de 1821 foi um fracasso. Em 1848, uma nova tentativa tomou forma. E embora os otomanos tenham sido temporariamente expulsos do território nessa ocasião, eles conseguiram retomar seu poder logo depois.
Poucas décadas mais tarde, em 1877, os romenos aproveitaram-se de uma guerra entre o Império Otomano e a Rússia para declarar sua independência. Como a Rússia venceu a guerra, os otomanos não tiveram alternativa senão reconhecer a independência romena.
Com a independência, vieram disputas internas pelo poder entre facções boyar. Para pôr fim à rivalidade interna, decidiu-se então convidar o alemão Carlos de Hohenzollern-Sigmaringer para reinar o país. Carlos I tornou-se, assim, o primeiro rei da Romênia, em 1881.
Mesmo sendo alemão, Carlos I é um rei até hoje celebrado pelos romenos como um governante patriota e comprometido com o seu país. Ele promoveu o desenvolvimento industrial urbano e financeiro e construiu o exército nacional, trazendo estabilidade à Romênia. Contudo, ele negligenciou os problemas da população rural e manipulou os partidos políticos, deixando um legado negativo que até hoje afeta o poder público romeno.
4) A Paris da Europa Oriental
As várias ocupações sofridas pela Romênia e seu isolamento da Europa Ocidental fizeram com que sua capital fosse considerada um tanto atrasada em comparação às demais capitais europeias. Assim, Carlos I decidiu voltar-se para a França como inspiração para os novos sistemas educacionais, militares e administrativos do país, e também como fonte de cultura.
A escolha pela França se deu porque o país era referência mundial em arquitetura e arte. Desse modo, Carlos I e também seus sucessores decidiram copiar a arquitetura francesa por toda Bucareste. Ainda hoje há muitos prédios feitos por arquitetos franceses ou que copiam prédios e monumentos conhecidos na França.
5) Um comunismo diferente
Com a ocupação soviética da Romênia após a Segunda Guerra Mundial, o então rei Miguel foi forçado a abdicar. Formou-se, então, uma República Popular Comunista no país em 1947. O regime comunista durou mais de 4 décadas e foi marcado por pobreza, racionamentos e miséria. O fim do comunismo romeno veio apenas em 1989, com a revolução sangrenta que culminou na execução do ditador Nicolae Ceauşescu.
Contudo, o comunismo da Romênia foi um pouco distinto dos demais países dos Bálcãs. Primeiramente porque durante alguns anos, o comunismo romeno foi marcado por alguns avanços sociais e econômicos e por certa liberdade de pensamento e de expressão. Em segundo lugar, porque a Romênia buscou se aproximar dos países capitalistas e fez críticas à invasão da Tchecoslováquia pela União Soviética.
A situação, contudo, mudou nos anos 1970. O então ditador Nicolae Ceauşescu, inspirado nos líderes norte-coreano e chinês, pôs fim ao período de “relaxamento” e exigiu a volta à rigidez ideológica. O ditador também promoveu um forte culto à personalidade até então sem predentes no país. Além disso, os EUA decidiram emprestar dinheiro para Ceauşescu, o que o possibilitou financiar a sua visão megalomaníaca de uma capital comunista cosmopolita. Com a nova leva de dinheiro, ele construiu amplas avenidas na capital, destruiu casas e igrejas e ordenou a construção de um enorme parlamento.
Com o aumento da dívida externa da Romênia, Ceauşescu passou a ordenar a exportação em massa dos produtos industriais e rurais do país para ajudá-lo a angariar fundos. O resultado disso foi uma profunda escassez de recursos fundamentais para a sobrevivência da população, como comida, gás, eletricidade e água.
O descontentamento com o governo era crescente e em dezembro de 1989 iniciou-se uma revolta em Timisoara, na Transilvânia. A revolta se deu em virtude da repressão do governo contra um pastor que era crítico do regime comunista. Para acalmar os ânimos, Ceauşescu convocou uma passeata em seu favor, reunindo milhares de pessoas para mais um dos discursos em que ele exaltava a sua grandeza como governante.
Contudo um grupo começou a protestar e logo se iniciou um levante popular. O exército acabou por apoiar a população, dando início à revolução romena. Ceauşescu e sua esposa fugiram em um helicóptero, mas foram capturados dias depois e executados em um julgamento-relâmpago que durou pouco mais de uma hora. Mas a revolução não terminou aí. Terroristas passaram a atacar a população e milhares pessoas morreram no país nos dias que se seguiram.
A revolução se iniciou na Praça da Revolução, que é parada obrigatória a qualquer turista que visite Bucareste. Além da Praça, é possível ver os prédios que foram usados durante a revolução, bem como os monumentos construídos após a queda do regime.
6) Igrejas “móveis”
O regime comunista na Romênia se tornou crescentemente anti-religioso e a ordem era apagar qualquer monumento que relembrasse as pessoas de suas tradições e de seu passado. Por isso, e também por conta do projeto arquitetônico de Ceauşescu, muitas igrejas, sinagogas e mosteiros foram demolidos durante a ditadura.
Um grupo próximo ao ditador tentou convencê-lo de que era melhor simplesmente esconder as igrejas atrás dos novos prédios em estilo soviético. E foi um criativo engenheiro romeno que tornou isso possível. Inspirado na habilidade dos garçons de carregar vários itens sobre uma bandeja, Eugen Iordachescu desenvolveu um sistema que possibilitaria que as igrejas fossem transportadas para fora da área-alvo do projeto arquitetônico de Ceauşescu. A técnica de Iordachescu envolvia escavar a base das igrejas, levantar o prédio com a ajuda de uma série de bombas ativas e passivas, inserir trilhos de trem em baixo do prédio suspenso e movê-lo por meio de alavancas hidráulicas e polias industriais.
Nada menos que 13 igrejas foram salvas da demolição com essa técnica. As igrejas eram tiradas de seu lugar original e escondidas atrás dos novos prédios socialistas. Os romenos se tornaram tão experientes nessa técnica que moveram até mesmo um prédio residencial. E com as pessoas dentro!
Até hoje é possível encontrar igrejas escondidas por toda a cidade, o que torna uma caminhada por Bucareste super recomendável!
7) O Parlamento Romeno
O Parlamento Romeno é o segundo maior prédio de administração pública do mundo (atrás apenas do Pentágono, nos EUA). É o prédio mais pesado do mundo e foi o mais caro também: feito em grande parte de mármore, custou mais de 4 bilhões de euros para ser construído.
A construção do prédio foi parte do projeto arquitetônico megalomaníaco do ditador comunista Ceauşescu, que queria redesenhar Bucareste para torná-la mais cosmopolita. A construção foi iniciada nos anos 1980, porém só foi concluída após a queda do regime comunista.
O plano era que o prédio abrigasse todos os órgãos públicos da Romênia, além da residência do ditador. Por isso o prédio conta com 1100 salas, embora hoje ele abrigue a apenas o parlamento e algumas entidades públicas. Há grande parte do prédio que não é utilizada, porque é feita de enormes corredores e espaços que não têm como ser ocupados por escritórios. Por isso, é um espaço que ainda gera enormes custos aos poder público.
Além disso, o Parlamento está situado num parque que causa sentimentos de bastante frustração aos romenos. Isso porque no lugar do parque havia muitas casas residenciais antigas que foram destruídas para dar lugar ao projeto de Ceauşescu. Estima-se que cerca de 9 mil casas foram destruídas em toda a cidade de Bucareste. Além disso, como já mencionei, dezenas de igrejas e outros prédios religiosos foram demolidos.
Ceauşescu morreu antes que o novo parlamento fosse concluído e nunca pôde discursar no seu maior projeto. A primeira pessoa a discursar no Parlamento foi – acreditem – Michael Jackson. Ao visitar a Romênia em 1992, o astro foi convidado a fazer um breve discurso à população. Infelizmente, ao saudar seus fãs, trocou o nome da cidade e afirmou estar felicíssimo em estar em “Budapeste”. Michael não foi o único a confundir as cidades e os romenos até iniciaram uma campanha chamada “Bucareste não Budapeste” para pôr fim à confusão.
8) Ursos-pardos
A Romênia tem a maior população de ursos pardos da Europa, depois da Rússia. Infelizmente, a relação entre os romenos e os ursos não é das melhores e maus-tratos e abusos contra esses animais não são incomuns. Muitos deles são capturados e forçados a viver em jaulas minúsculas ou colocados para trabalhar sob maus-tratos em circos e zoológicos.
Por isso, a União Europeia colocou como uma das condições para a adesão da Romênia ao bloco que o país adotasse medidas protetoras aos ursos. Ainda assim, em meados de 2017 o Ministro do Meio Ambiente romeno anunciou a decisão de matar 140 ursos e 97 lobos devido ao aumento na população desses animais.
Há na Romênia um santuário para os ursos, o maior do seu tipo na Europa. O santuário possui quase 100 ursos. Eles podem viver por mais de 40 anos e consomem juntos mais de 2 toneladas de comida por dia. A visita ao local é recomendada, mas é preciso entender que não se trata de um zoológico e que o santuário não existe para entreter turistas. Ele foi criado para proteger os ursos e por isso é uma experiência diferente e há regras que precisam ser seguidas.
O trabalho do santuário é realmente incrível e ele funciona com quase nenhuma ajuda do governo. Os ursos que lá estão não podem retornar à natureza ou porque não conseguem mais sobreviver sozinhos ou porque não há comida suficiente para eles em seu habitat. Além de visitar o santuário e de aprender sobre a história de cada urso, você pode também apadrinhá-los e ajudar financeiramente o santuário a continuar seu trabalho.
Como você pode ver, a Romênia é um país repleto de contrastes e peculiaridades. Por isso a visita ao país é super interessante. Mas não se limite apenas à Bucareste! Brasov, Cluj Napoca, Bran e outras várias cidades também guardam belezas e riquezas bastante especiais.
E você, conhece alguma outra curiosidade sobre a Romênia? Comente abaixo e compartilhe! E caso queira receber mais dicas de viagem e sugestões de roteiros, se inscreva no blog!
Até a próxima!
Amei!
Morei em Bucareste por dois breves anos. Visitei algumas cidades do interior.
O país é lindo! Sonho com o dia quando poderei retornar.
Só desejo acrescentar que o país abriga a maior população cigana da Europa.
Oi Regina! Que legal que pôde morar lá por um período. E super interessante seu comentário sobre a população cigana!
Curiosidades mto interessantes. Valeu, Viajante fora da curva !
Obrigada! :*